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Alvitrando

Aqui se dão alvíssaras e trocam ideias sobre temas gerais, o Alentejo e o poder local, e vou dando notícias das minhas reflexões sobre temas da actualidade e de acontecimentos que achar que devem ser divulgados por esta via.

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Aqui se dão alvíssaras e trocam ideias sobre temas gerais, o Alentejo e o poder local, e vou dando notícias das minhas reflexões sobre temas da actualidade e de acontecimentos que achar que devem ser divulgados por esta via.

Viragem à direita. Causas e consequências.

Zé LG, 21.05.25

Banner-Lopes-Guerreiro-300x286.jpgNas eleições para a Assembleia da República, realizadas, no Domingo, confirmou-se e acentuou-se a derrota da esquerda e a subida da direita e, principalmente, da extrema-direita, que, tudo indica, ultrapassou o PS. Importa recordar que a grande quebra na votação do PS se registou nas eleições de 2024, em que perdeu cerca de meio milhão de votos, descendo de 41% para 28% e de 120 para 78 deputados.

Não se tratou de uma especificidade portuguesa. Foi, como acontece tantas vezes, uma réplica do que se tem vindo a registar lá fora, designadamente em países europeus, uma cópia quase integral do registado recentemente na Alemanha.
A que se deve a ascensão da extrema direita e a quebra eleitoral da esquerda e que consequências poderá vir a ter é a questão que se deve colocar às esquerdas, mas também às direitas democráticas.
Se é verdade que as sociedades evoluíram muito, na ciência e na técnica, no conhecimento e na informação, na capacidade de criar infraestruturas e equipamentos e de produzir riqueza, não é menos verdade que a concentração da riqueza produzida e as desigualdades têm vindo a crescer e a acentuar-se cada vez mais.
Tem vindo a crescer também o número de pessoas que, apesar de trabalharem, não conseguem ter uma vida digna, com habitação, alimentação, saúde, educação, férias e tempos livres. Apenas uma vida digna, que o trabalho devia assegurar.
Ter um emprego com condições e remuneração justa, sair da casa dos pais, constituir família e ter filhos não é mais do que uma miragem, para tantos e tantos jovens da geração com mais formação e menos satisfação, que se veem obrigados a emigrar ou a continuar dependentes dos pais.
A crise demográfica e a necessidade de mão-de-obra imigrante para satisfazer as necessidades das empresas e da economia, trouxeram pessoas, maioritariamente homens jovens, de outras raças e culturas bem diferentes da nossa, o que contribuiu para criar uma percepção de insegurança, que a falta de condições e de integração proporcionaram.
O poder político deixou-se aprisionar pelos poderes fácticos, que condicionam os governos e as suas políticas aos seus interesses. A globalização, a União Europeia, o FMI e o Banco Mundial transformaram-se em instrumentos que facilitam e reforçam esses poderes fácticos e o condicionamento dos governos e das políticas dos países.
Os sistemas partidários, quase sempre bi-paridários assentes na alternância, passaram a oferecer cada vez menos alternativas. É assim porque tem de ser, porque a União Europeia e outras estruturas assim nos obrigam, é a explicação que passou a ser usada pelos governos como desculpa para facilitarem a vida dos poderosos e apertarem a dos trabalhadores e dos pequenos empresários.
A política e as políticas que deviam servir as pessoas têm sido substituídas pelo cálculo eleitoral e como instrumentos para servir clientelas e os próprios políticos.
Deste caldinho político-social tem vindo a resultar a revolta, latente durante algum tempo e agora cada vez mais expressiva, das pessoas, principalmente dos jovens, que são os que mais sofrem com a frustração das expectativas que lhes foram criando.
O enfraquecimento dos sindicatos, e de partidos que mais se assumem na defesa dos trabalhadores, e da sua capacidade de protesto e de reivindicação, levou ao aparecimento e crescimento de partidos populistas, nacionalistas e de extrema direita.
Muitos dos que votam nestes partidos fazem-no como forma de protestarem contra esta situação e exigirem que seja alterada, porque deixaram de acreditar nos outros partidos, que consideram responsáveis pelo estado a que isto chegou.
O descrédito nos partidos e nos políticos é grande, sendo considerados todos iguais. É dado pouco valor à falta de transparência, ética e idoneidade, de que alguns são acusados. O Chega não é visto de forma diferente, apenas é mais tolerado porque é usado para dar voz à revolta e ainda não foi poder e espera-se que não venha a ser.
Importa, ainda, frisar que a direita e a extrema-direita juntas ultrapassaram os dois terços de deputados, o que lhes permite alterar a Constituição, nomear os juízes do Tribunal Constitucional, para além de outras coisas, para evidenciar a gravidade da situação resultante das eleições de Domingo.
E agora o que fazer, perante este caldinho? Para começar, não seria mau que cada um reflectisse sobre o seu comportamento e o que fazer para recuperar algum crédito junto das pessoas. E que o fizessem com calma e sem precipitações.
Tal como seria bom e demonstrativo de que a palavra ainda tem valor, e de que não é aceitável ter um primeiro-ministro sob suspeita de falta de transparência, ética e idoneidade, que os partidos fizessem o que que afirmaram que iriam fazer em relação a Luís Montenegro, não apoiando um novo governo por ele chefiado e avançando logo que possível com a criação da Comissão Parlamentar de Inquérito para esclarecimento da sua situação promíscua enquanto empresário e primeiro-ministro. Isto sob pena de as eleições não terem passado de uma jogada política para referendar e desculpar o comportamento do primeiro-ministro, como ele pretendeu.
Se é verdade que a AD ganhou as eleições com cerca de um terço dos votos, não é menos verdade que os restantes 60% dos votos foram repartidos pela extrema direita e pelas esquerdas. Isto deve obrigar a AD a escolher o caminho, os protagonistas e os parceiros para assegurar a maioria parlamentar que assegure o apoio necessário ao governo, e não esperar que sejam as oposições a fazê-lo.
A tão falada estabilidade política está, novamente, nas mãos de Marcelo Rebelo de Sousa e de Luís Montenegro. Não esquecendo que a verdadeira estabilidade política depende do grau de satisfação que as políticas concretizadas tiverem nas pessoas.
Até para a semana!
LG, 20/05/2025
Pode ler e ouvir aqui.

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