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Alvitrando

Aqui se dão alvíssaras e trocam ideias sobre temas gerais, o Alentejo e o poder local, e vou dando notícias das minhas reflexões sobre temas da actualidade e de acontecimentos que achar que devem ser divulgados por esta via.

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Valência: Que se saiba tirar as lições da tragédia!

Zé LG, 06.11.24

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As tragédias provocadas pelos chamados fenómenos naturais acontecem com cada vez mais frequência, com intervalos mais curtos e com consequências mais graves.
Falei nos chamados fenómenos naturais, porque eles são provocados cada vez mais pelas actividades humanas.
Na tragédia registada na semana passada na região de Valência, no sudoeste de Espanha, isso ficou bem evidenciado. A começar por uma gestão urbanística que permitiu a construção de zonas industriais e habitacionais em áreas de grande vulnerabilidade às cheias e em profundidade sem capacidade de escoamento. Esta situação foi agora agravada pelas alterações climáticas, que provocou quantidades de chuva em curtos espaços de tempo como nunca se vira antes.
O desrespeito pela Natureza, a ganância de alguns, a grande especulação imobiliária associada à corrupção, a construção de génese clandestina ou de fraca qualidade e sem condições de segurança mínimas contribuem para o surgimento dos, cada vez mais, impropriamente chamados fenómenos naturais, com consequências cada vez mais graves e trágicas.

O que aconteceu na região de Valência pode acontecer em muitas outras regiões, como, aliás, tem acontecido já em muitas outras. Basta estarmos atentos às notícias, para constatarmos como fenómenos raros o são cada vez menos e se registam cada vez mais em regiões onde era difícil supor-se que a eles estivessem sujeitas.
O degelo tem vindo a acelerar, deixando montanhas a descoberto de gelo e cobertas de vegetação, provocando enxurradas e rebentamento de barragens, fazendo subir o nível das águas do mar e alterando a temperatura e outras condições destes. Desertos onde não caía um pinga de água foram inundados, dando origem ao aparecimento de lagos e de vegetação. Sismos e tsunamis passaram a ser cada vez mais frequentes e mais espalhados pelo mundo. O mesmo tem acontecido com os grandes incêndios, que têm devastado enormes áreas de floresta e posto em causa a vida nalgumas grandes áreas. Vulcões entram em erupção mais frequentemente e em maior número.
Este é um retrato resumido de uma situação pré-apocalítica, que se vem registando por esse mundo fora e com que nos preocupamos apenas quando algum desses fenómenos têm lugar perto de nós, se nos atingiram a nós ou a alguém nas nossas relações e enquanto se fazem sentir as suas consequências de forma mais notória.
Depois, convencemo-nos de que volta tudo à normalidade, nem que seja a uma nova normalidade com muitas diferenças, quase sempre para pior, da normalidade em que crescemos e vivemos.
Voltando à tragédia que devastou a região de Valência, fez centenas de vítimas, destruiu bens e vidas e, como se tudo isto não fosse já bastante, os responsáveis políticos alimentaram guerras partidárias entre os governos nacional e regional, atrasando a mobilização de pessoas e equipamentos necessários para a procura de pessoas, apoios diversos às pessoas que ficaram sem nada, incluindo água e comida, limpezas, restabelecimento da circulação, da segurança e das condições mínimas de vida e o início da reconstrução. A agravar ainda mais a já tão grave situação, surgiram ainda os amigos do alheio que pilharam tudo o que conseguiram, deixando habitações e comércios completamente vazios.
Mas se o pior da condição humana se manifestou, também o que de melhor ela tem se manifestou de forma tão impressionante, fazendo acorrer às zonas mais afectadas pela tragédia milhares e milhares de pessoas de toda a Espanha – e até de Portugal , levando alimentação, roupas e principalmente uma enorme solidariedade, procurando ajudar no que mais era preciso e eram capazes de fazer. Foi uma manifestação de solidariedade que a ninguém deixou indiferente e que mostrou aos políticos que, perante as dificuldades, é necessário reagir e agir tão depressa quanto possível, colocando as pessoas em primeiro lugar e apoiando-as tão depressa e como mais necessitam quanto possível.
Importa que, perante mais esta tragédia humanitária, os poderes – todos eles! - façam as necessárias reflexões e sejam capazes de tirar as devidas lições, para que, se não for possível evitá-las, consigam atenuar as suas consequências e responder de forma mais rápida e eficaz. Que saibam estar à altura do desafio!
Até para a semana!
LG, 05/11/2024

Publicado aqui.

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