Um processo judicial em que ninguém parece ficar bem na fotografia
Há meia dúzia de anos, um antigo primeiro-ministro voltou de Paris, para ser ouvido pela Justiça, que o acusava de vários crimes. Foi preso no aeroporto, com transmissão em directo pelas televisões.
Se o homem regressou para se colocar à disposição da investigação, porque o prenderam e, ainda por cima, com transmissão em directo? Se o prenderam e depois o mantiveram preso durante nove meses é porque havia provas ou, pelo menos, fortes indícios dos crimes praticados. Porque é que, decorridos todos estes anos, as provas apresentadas pela acusação não convenceram o juiz?
O processo está a ser julgado, à semelhança de outros mega-processos, por um tribunal com apenas dois juízes. Um apresenta-se como “justiceiro”, o outro como “amigo” dos acusados e mostra ter “um ódio de estimação” pelo ministério público. Ambos não perdem oportunidade para mostrar o “ódio de estimação” que sentem um pelo outro.
Depois de levar uma tarde inteira a ler uma “súmula” da sentença, em que mais pareceu ser “o advogado de defesa dos acusados” e “o advogado de acusação do ministério público”, o juiz considerou não provados a maioria dos crimes de que foram acusados os arguidos e ilibou a maioria destes de quaisquer crimes e mantendo a acusação de apenas seis dos arguidos a uma pequena parte dos crimes de que eram acusados.
A opinião pública desde há muito que condenou os arguidos dos crimes de que foram acusados e, agora, não aceita a decisão do juiz e, numa petição que recolheu mais de 100 mil assinaturas num só dia, exige “o afastamento do juiz de toda a magistratura”.
Esta é a história breve (e com falhas de terminologia técnico-jurídica) de um longo processo em que, mais do que “estar a fazer-se Justiça” parece estar a mostrar-se as suas fragilidades e contradições, difíceis de aceitar num estado de direito.