«... Defendes o passado com peito cheio e voz alta - um passado que não viveste, que não viste, que nunca te tocou. Replicas frases feitas, engoles mentiras vestidas de saudade, e apontas o dedo à democracia como se ela fosse um erro, como se a liberdade tivesse sido uma escolha errada. ... Não sabes o que foi viver com medo de falar, de escrever, de pensar. Não sabes o que foi ver um pai arrancado de casa por uma denúncia anónima. Não sabes o que foi uma mulher obrigada ao silêncio, à sombra, ao canto da sala. Não sabes o que foi crescer analfabeto porque estudar era luxo. Não sabes o que foi morrer numa guerra que nunca foi tua, com 20 anos... E, pior ainda, não queres saber. Ignoras os relatos, desprezas os sobreviventes, e com isso insultas uma geração que sofreu, que resistiu, que lutou para que hoje tu pudesses escrever o que quiseres nas redes sociais, votar em quem quiseres, insultar os políticos sem receio de ser preso. ...És livre - e é essa liberdade que usas para elogiar o regime que te proibiria de a ter. ... Respeita. Cala-te e ouve. Aprende antes de falares. Porque defender a ditadura em pleno século XXI é cuspir na cara de quem lutou para que tu pudesses ter opinião. E isso não é ignorância. É crueldade.» Texto: Guilherme Albert, aqui.