“Quando uma mulher levanta a voz em nome de todas”
«O que se passou ontem no programa da Júlia Pinheiro não foi apenas televisão. Foi um grito. Um murro na mesa dito com educação. Um momento raro em que o desconforto rompeu o guião, porque há limites para a contenção quando se fala de direitos humanos - neste caso, os das grávidas. “Fico mesmo muito zangada, como mulher.” Estas palavras, ditas em direto, não foram encenação. Foram o reflexo de uma realidade que toca a todas e a todos nós: um sistema de saúde que continua a falhar em momentos críticos, como a gravidez, onde o apoio devia ser total, contínuo e digno. Júlia falou como comunicadora, sim. Mas acima de tudo como cidadã que sente, que se indigna, que não se resigna. Deu voz ao que tantas mulheres vivem em silêncio: a insegurança de não saberem se serão atendidas, a angústia de urgências encerradas, a sensação de abandono num momento de fragilidade. O valor daquele momento não está na polémica - está na coragem. Não foi um ataque político. Foi um apelo humano. Um basta dito com classe, mas dito alto e bom som. E é isso que mais falta faz neste país: a coragem serena de quem não vira a cara à indignação justa.» Alberto Carvalho, aqui.