Política (im)pura
A ambiguidade do tema é propositada. O que podia ser um regresso à prática de uma das actividades mais determinantes da nossa vida e do nosso futuro colectivo – a Política (com P grande) -, parece-se mais com um medíocre espectáculo de marionetas, em que políticos actuam em função dos comandos que recebem. E, quando os políticos ignoram que não passam de marionetas comandadas e se imaginam autónomos, actuam como artistas de circo, optando, quase sempre, pelos papéis de palhaço rico ou de equilibrista. Para podermos avaliar melhor o “estado da arte” da política, vou referir algumas notas que me parecem ilustrar bem a realidade.
O governo do PS, liderado por António Costa, está em funções há já oito anos consecutivos. Oito anos! Não são oito meses. E, entretanto, continuamos a ouvir diversos ministros falarem dos inúmeros problemas existentes nas suas pastas como se tivessem tomado posse agora, há oito dias, como se não tivessem quaisquer responsabilidades neles… Os problemas que persistem da Saúde, na Educação, na Habitação, no Trabalho e em tantas outras áreas já existiam há oito anos e eram denunciados pelo PS e por António Costa, que prometeram resolvê-los. O que fizeram nestes oito anos para os resolver?
Não nos esquecemos do que entretanto se verificou – uma pandemia e uma inflação, agravada por uma guerra -, que pode explicar algumas dificuldades mas não justifica tamanha inacção na resolução de problemas estruturais que nos afectam a todos.
O Governo usou milhões de milhões de euros de todos nós para salvar bancos, para que estes, agora, usem a inflacção para obterem lucros pornográficos à conta de quem precisa de crédito ou de quem lhes confia as suas economias.
O governo de António Costa recuperou a TAP, investindo nela milhões de milhões de euros dos portugueses, em nome da necessidade de manter uma companhia aérea de bandeira, que alimenta muitas actividades económicas e assegura muitos postos de trabalho, porque era fundamental para assegurar a ligação a todo o território nacional e a toda a diáspora, para agora a pôr à venda em condições que… “logo se vê”…
O PSD, o maior partido da oposição, tenta afirmar-se como alternância, com os contributos de uma múmia política, de um D. Sebastião e do Presidente da República, em cuja acção nem sempre se revê mas a quem reclama mais distanciamento do governo. E continua a manifestar dificuldades em resistir ao CHEGA e a afastar qualquer hipótese de com ele se coligar se dele precisar.
As recentes eleições regionais mostraram bem as dificuldades do PSD e da sua liderança. Luís Montenegro tentou aproveitar-se dos resultados eleitorais, transformando a perda da maioria absoluta, em coligação com o CDS, que tinha conseguido, numa coligação com o CDS, depois das anteriores eleições. E o seu líder regional, Miguel Albuquerque, numa manobra de ilusionismo, esqueceu a garantia dada antes das eleições de que só governaria se obtivesse maioria absoluta, para, não a tendo alcançado, se socorrer do PAN para a conseguir.
Mas este triste espectáculo não acontece só no nosso País. Basta olharmos aqui para o nosso lado para vermos um PP a acusar o PSOE de querer manter-se no poder a todo o custo, tentando obter o apoio de partidos que lutam pela independência das suas regiões, e não sente o mínimo escrúpulo democrático ao ter banalizado a extrema direita saudosista do franquismo, representada pelo VOX, com quem, imediatamente após as eleições, para não dizer antes como tudo indica que terá acontecido, acordou fazer uma coligação para tentar regressar ao poder.
E é assim que, aproveitando o crescente descontentamento, desespero e, em muitos casos, revolta de quem já perdeu tudo ou se sente ameaçado de que tal possa acontecer, quem promete tudo e o seu contrário e responsabiliza o regime democrático pelo estado a que chegámos vai iludindo muitas pessoas.
A única forma forma de combater o populismo é fazer regressar a Política (com P grande), que, como dissemos no início, deve ser entendida como a prática de uma das actividades mais determinantes da nossa vida e do nosso futuro colectivo, e resolver efectivamente os principais problemas que afectam as pessoas.
Até para a semana!
Pode ouvir aqui.