"O povo soltou-se, abraçou a liberdade e ... despertou dum sono onde todos os sonhos pareciam poder transformar-se em realidade"
«Fernando Caeiros, que, com 20 anos, fez parte da comissão administrativa da Câmara Municipal de Castro Verde e, depois, em 1976, foi eleito presidente da autarquia (cargo para o qual foi reeleito ao longo de mais de 30 anos), escreveu sobre esses dias: “Com o derrube da ditadura pelos militares de Abril, o povo soltou--se, abraçou a liberdade e a democracia despertou dum sono onde todos os sonhos pareciam poder transformar-se em realidade. É neste ambiente que se lançam as fundações de um novo poder local, parcela do Estado mais próxima dos cidadãos, onde caíam todas as reivindicações, sempre acompanhadas dum surpreendente voluntarismo e imaginação, bastas vezes sob a batuta das mulheres ou de informais comissões de moradores que pululavam por todo território. Despertava um tempo novo, democrático e anticolonial, cheiinho de manifestações de generosidade, onde até alguns dos apoiantes do ‘Estado Novo’ envergavam o casaquinho da democracia, com o cravinho a pontuar na lapela, com militares e guardas-republicanos ao lado do povo, rendidos à liberdade, afrontando o RDM de cravo vermelho ao peito”.»
Trecho do texto “Eleições autárquicas de 1976 marcaram nascimento do Poder Local democrático”, in Diário do Alentejo | 23 abril 2021.