MARIANA
Eis a que tudo deu e nada tem
senão as cartas que a si mesma escreve.
Nelas só arderá por quem não vem
a eternidade do seu corpo breve.
Escreve cartas de amor para ninguém
seu nome de mulher é Mariana
escreve cartas e reza como quem
está mais perto de Deus por ser humana.
Amou talvez o amor mais que o amante.
Escreve cartas e dói-lhe um corpo ausente
em seu corpo tão perto e tão distante.
O resto é nunca mais haver depois.
Escreve cartas de amor a si somente
como quem só a si ama por dois.
Poema de Manuel Alegre, in Alentejo e Ninguém. Litografia da quinta carta de Mariana Alcoforado, de Henri Matisse.