Juventude com problemas no presente e no futuro
Há uns dias, o governo de António Costa anunciou um conjunto de medidas de apoio aos jovens: passes gratuitos até aos 23 anos, isenção de IRS no primeiro ano de trabalho, reembolso das proprinas desembolsadas durante o curso superior, cheque-livro, quatro bilhetes de comboio, uma semana em pousadas da juventude.
São medidas interessantes, mas, e nem falando de medidas como o cheque-livro, os quatro bilhetes de comboio ou a semana em pousadas da juventude, alguma das medidas divulgadas é decisiva para impedir um jovem que seja a ficar em Portugal e a não emigrar, procurando o que cá não consegue?
O governo desconhece as dificuldades que muitos jovens, os das famílias com mais baixos rendimentos e, cada vez mais, mesmo os da classe média, têm no acesso ao ensino superior? Desconhece os custos das proprinas, das deslocações, do alojamento e da alimentação dos jovens que têm de sair de casa e da terra das famílias para poderem estudar?
O governo desconhece as dificuldades que os jovens, incluindo os com formação superior, têm em encontrar trabalho e as condições que lhe são oferecidas de precariedade, baixos salários e sem respeito por muitos outros direitos? Desconhece que é nos jovens que a taxa de desemprego é muito superior à média?
O governo desconhece as dificuldades que os jovens têm em conseguir habitação, seja por aluguer ou compra, atendendo aos elevados valores das rendas e dos juros?
O governo desconhece ainda as dificuldades que os jovens sentem quando procuram creche para colocar os seus filhos?
O governo não compreende que é por não conseguirem trabalho efectivo, com salário justo e outros direitos, por não conseguirem arranjar habitação própria e terem extremas dificuldades em conseguirem arranjar colocação das suas crianças em creches que os jovens constituem família cada vez mais tarde e mais tarde saem da casa dos pais?
Ou seja, o governo não compreende que com todas estas dificuldades que os jovens enfrentam e ele – este e os anteriores -, pouco ou nada fizeram para resolver ou, pelo menos, atenuar, está a contribuir decisivamente para facilitar, para não dizer fomentar, a emigração crescente de jovens e, com a agravante, de cada vez mais qualificados?
O governo investe fatias significativas do Orçamento de Estado na formação dos jovens, designadamente no ensino superior, ao ponto de se ter tornado lugar comum a afirmação de que temos a geração mais qualificada de sempre. E depois o que acontece? Parte significativa desse investimento, feito com dinheiro de todos nós, é aproveitado por outros países, para onde emigram, porque o nosso não tem condições para os fixar.
Para que serve então termos a geração mais qualificada de sempre? Para contribuirmos, com os jovens que emigram, para a evolução de empresas e outras organizações de outros países, mantendo-se as nossas com dificuldades de evoluírem porque não têm os quadros e a massa crítica de que necessitam para fazê-lo.
Desta forma, não resolvendo os problemas básicos e estruturais do país, estamos a adiar um mais rápido desenvolvimento do país, por muitas das nossas empresas e outras organizações, públicas e privadas, não serem suficientemente competitivas com as de outros países, por não estarem a aproveitar a geração mais qualificada de sempre.
Esta é mais uma das inúmeras contradições com que se debate o nosso país e que o governo – este e os anteriores , não tem conseguido ou querido resolver. Não basta identificar os problemas que estão a bloquear um desenvolvimento mais rápido. É também necessário e determinante procurar as soluções que permitam desbloqueá-los e, acima de tudo, competência e vontade política para as pôr em prática.
E, voltando ao princípio, não será seguramente com as medidas anunciadas pelo governo que a emigração dos jovens mais qualificados será travada, os jovens passarão a constituir família mais cedo e a terem mais filhos, o envelhecimento da população e dos trabalhadores portugueses deixará de aumentar e as empresas e outras organizações se tornarão mais competitivas.
E assim os jovens continuarão a ter inúmeros problemas no presente, que, a não terem rápida solução, irão prosseguir no futuro. É por isso mesmo que, cada vez mais, ouvimos mais gente com responsabilidades dizer que a próxima geração é a primeira que não terá assegurada uma vida melhor do que a que a antecedeu.
Quando somos todos os dias inundados com notícias que dão conta da evolução incrível do conhecimento científico e da evolução tecnológica, não é, certamente, por desconhecimento que o governo não toma as medidas necessárias para atacar de frente este problema, como outros, que trava o desenvolvimento integrado e sustentado e adia, ou anula mesmo, a possibilidade de uma vida melhor.
Até para a semana!
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