Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]

Alvitrando

Aqui se dão alvíssaras e trocam ideias sobre temas gerais, o Alentejo e o poder local, e vou dando notícias das minhas reflexões sobre temas da actualidade e de acontecimentos que achar que devem ser divulgados por esta via.

Alvitrando

Aqui se dão alvíssaras e trocam ideias sobre temas gerais, o Alentejo e o poder local, e vou dando notícias das minhas reflexões sobre temas da actualidade e de acontecimentos que achar que devem ser divulgados por esta via.

Instalação de câmaras de videovigilância em Beja, sem discussão pública, é a política no seu pior

Zé LG, 01.03.25

Sem nome (23).png«Por favor não abram essa caixa de pandora
Recentemente têm vindo a público informações sobre a instalação de câmaras de videovigilância em Beja, devido à notória degradação dos equipamentos públicos e subida da criminalidade. E a apresentação desta medida é transmitida como dado adquirido e mascarada de unanimidade, apesar de não ter havido discussão na comunidade. É a política no seu pior.
As câmaras de videovigilância são um instrumento de punição coletiva e uma vez instaladas terão repercussões e efeitos em toda a população. O jargão “quem não deve não teme” é falacioso porque todos serão afetados e não só “os maus”, como o pensamento mais básico e de senso comum pode ser levado a acreditar.

A liberdade de todos será sequestrada, as pessoas modificarão o seu comportamento natural nas áreas sob vigilância, momentos da vida de toda a gente serão observados e tudo isto tem implicações na saúde mental de cada um. É uma devassa da vida dos cidadãos, que têm direito à sua imagem, aos seus dados e à sua intimidade, que não se restringe à sua casa, mas aos momentos em que se considera só ou com os seus.
Os supostos objetivos a atingir seriam a diminuição do crime e, com o suposto aumento de segurança, “trazer as pessoas para a rua”. São falsos. O crime passará para outros locais, não diminuirá e ficará tão só “longe da vista”.
A experiência e prática anteriores, realizadas em cidades enormes, dizem-nos que as áreas vigiadas progressivamente deixarão de ser frequentadas e ficarão esvaziadas de pessoas. O argumento de que a suposta segurança trará gente para as ruas não colhe. Ninguém quer ser vigiado.
Esta medida terá ainda o efeito pernicioso de relaxar as instituições responsáveis por prevenir e enfrentar a insegurança, deixarão de acudir ao ato porque no dia a seguir observarão o conteúdo das
filmagens. Precisamos é de polícia de proximidade, como houve nos anos 80 e 90, antes das super-esquadras e dos trabalhos gratificados (Olá, professor Cavaco! Olá, engenheiro Guterres!).
A vigilância, a ser implementada, é um passo de gigante rumo a um totalitarismo sem precedentes em Beja. A PIDE funcionava a pilhas e convidava/torturava/obrigava a delações, mas esta medida macabra disfarçada de justiceira e higienizada pelas novas tecnologias serve o mesmo propósito que é controlar as populações. E uma vez instaurado este monstro e inaugurado este novo pesadelo na nossa deficiente democracia, a nossa liberdade morre mais um pouco.
Senhores responsáveis, antigamente, nos autos-de-fé e outros permanentes ou severos castigos, a turba gritava extasiada e possessa, enquanto os carrascos cortavam cabeças, ou chicoteavam ou queimavam pessoas. Chamavam-lhe justiça. Mas findos esses grotescos episódios, todos voltavam para casa e ninguém queria o carrasco ao pé, só lhe era permitido viver nos arrabaldes.
Senhores responsáveis políticos, não queiram vestir esta pele, o totalitarismo e o securitarismo não são o caminho para a felicidade, mas para a opressão e “para se viver, não se deve perder a razão de viver”.
Não destruam a liberdade conquistada há 50 aninhos, que ela ainda é pequenina e alguns de nós têm-na como preciosa e indispensável.»
Ramiro Morais, in Diário do Alentejo, 21/02/2025.

30 comentários

Comentar post