Do “pântano político” que António Guterres quis evitar ao “pântano político” em que António Costa se deixou cair
Ao afirmar que “uma maioria absoluta não significa poder absoluto”, no seu discurso após a inesperada obtenção da maioria absoluta pelo PS nas últimas eleições, António Costa falou principalmente para dentro do PS, recordado que estava certamente do que aconteceu há 21 anos – a demissão de António Guterres, para evitar cair no “pântano político”. E certamente também teve presente o que há 11 anos atrás aconteceu com o governo de José Sócrates…
Apesar do aviso à navegação do PS, António Costa não conseguiu evitar a queda no “pântano político”. E, pior do que isso, não quis ver que tal estava a acontecer. Prova disso, foram as suas declarações à revista Visão, há uma semana, quando resumiu os diversos problemas com membros do governo a “casos e casinhos” alimentados pela “bolha mediática” em que vivem os jornalistas. Ao contrário do que afirmou, é ele próprio, o seu partido e o seu governo que vivem numa “bolha” desfasada da realidade política, económica e social, em resultado do seu poder absoluto, transformado num autêntico “pântano de interesses”.
Pior do que as nove demissões do governo em nove meses, é a ponta do icebergue de degradação que isso representa, porque porque os diversos “casos e casinhos” estão associados a abusos de poder em proveito próprio ou de familiares, amigos ou correlegionários. É a tal “bolha” em que os que nela vivem têm acesso a tudo, pulando de poleiro em poleiro e os portugueses a fazerem sacrifícios.
António Costa para recuperar a confiança dos portugueses, de que falou no seu discurso de Natal, tem de livrar-se de todos os que o rodeiam, quer no PS quer no governo, para se governarem e servirem os que melhor lhe pagam. Vamos ver se é capaz de sair do “pântano” em que se deixou cair e dar o golpe de asa que limpe toda a lama de interesses que o está a sujar. Porque o que para ele parecia ser mais um “casinho” rapidamente se transformou na maior crise política do seu governo e é preciso travá-la antes que se transforme numa grave crise política do país. O período de graça e festas está a terminar...