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Alvitrando

Aqui se dão alvíssaras e trocam ideias sobre temas gerais, o Alentejo e o poder local, e vou dando notícias das minhas reflexões sobre temas da actualidade e de acontecimentos que achar que devem ser divulgados por esta via.

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Aqui se dão alvíssaras e trocam ideias sobre temas gerais, o Alentejo e o poder local, e vou dando notícias das minhas reflexões sobre temas da actualidade e de acontecimentos que achar que devem ser divulgados por esta via.

Despedi-me do PCP, há 10 anos

Zé LG, 01.01.21

Adeus Camaradas!

Depois de muita ponderação e de ter adiado esta decisão para não criar quaisquer polémicas no último ciclo eleitoral, decidi renunciar à condição de militante do PCP.

Podia, para tal, invocar as minhas conhecidas divergências nos planos da ideologia, da política, da prática e da organização, designadamente da democracia interna com a Direcção do PCP, que naturalmente também contaram para esta minha decisão. Mas, apesar dessas divergências de sempre, desde que fui admitido como militante, não foram elas que me determinaram a tomar esta decisão.

A “gota de água” foi o desincentivo à militância que fui sentindo desde o XVII Congresso (2004), em que dei a cara afirmando a minha discordância em relação ao funcionamento do Partido. Nessa altura logo, foi assumido por um alto dirigente do Partido que só não era expulso pelos danos que tal decisão provocaria ao Partido. Desde então, para além de convocatórias para reuniões destinadas a aprovar o que já está aprovado e de convites para iniciativas comemorativas do aniversário do Partido e outras, para mais nada tenho sido convocado.

Se o Partido não precisa da minha participação militante, eu também não tenho jeito para “verbo-de-encher”

nem para desempenhar o papel de sócio, a quem já nem se dão ao trabalho de cobrar as quotas, tendo de as pagar por multibanco. Por isso remeto-me à minha condição de independente, que julgo ser a que melhor se coaduna com a minha maneira de ser e me permitirá intervir como muito bem entenda, sem me sentir condicionado pela disciplina partidária nem criar quaisquer dificuldades ao PCP.

Quando em Abril de 1975 pedi a minha adesão ao Partido fi-lo com o único interesse de contribuir activamente, na organização com que mais me identifiquei, depois de apreciar as diversas forças políticas então existentes. Nunca pretendi – e nalguns casos recusei -, exercer quaisquer cargos, designadamente públicos. Os que exerci foi por escolha dos organismos competentes do Partido, com a concordância da generalidade dos militantes e depois de vencida a minha relutância inicial. E sempre com o único objectivo de servir – servir o meu Partido, servir as causas em que acredito, servir as populações, servir o nosso Alentejo e o nosso país.

Como já escrevi, considero que tenho as contas saldadas com o Partido. Ele proporcionou-me experiências e vivências que provavelmente não teria tido se não fosse seu militante e eu dei-lhe tudo o que tinha para dar, com sacrifícios da minha vida pessoal. Apesar de ter passado a ser acusado de militante indisciplinado a partir da altura em que tornei públicas as críticas que antes fazia apenas internamente, sempre fui, com excepção desse “crime” de lesa centralismo democrático, um militante disciplinado, que pede meças a alguns dos que o têm acusado do contrário.

Deixo o Partido sem ressentimentos, embora sem esquecer algumas “partes” que me fizeram e os seus protagonistas. Nele continuam muitos companheiros de muitas lutas, acções e actividades e muitos amigos também.

O PCP continua a ser um dos partidos, para não dizer o Partido, com que mais me identifico. Será por isso natural que nos continuemos a encontrar e a partilhar a ambição de contribuirmos para a construção de uma sociedade mais progressista e justa. Mas agora, apenas e quando sentir que devo intervir, sem ser por obrigação e sem quaisquer constrangimentos ou limitações.

Continuarei, como sempre, empenhado no que possa contribuir para a construção de uma verdadeira alternativa de esquerda, que exige a unidade na acção das diversas forças que a constituem, com respeito por cada uma delas. Nestes tempos difíceis que vivemos, em que a direita domina, com a capitulação e o colaboracionismo das forças que se reclamavam da social-democracia, é cada vez mais necessário e urgente encontrar, à esquerda, uma alternativa ao capitalismo, que está mostrar a sua verdadeira essência.

Despeço-me com um abraço fraterno

José António do Rosário Lopes Guerreiro

Penedo Gordo, 1 de Janeiro de 2011

(Publicada aqui, em 18.04.12)

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