A PROPÓSITO DO ANIVERSÁRIO DO "LUIZ DA ROCHA"
Eram dois irmãos. Foi gente que ficou no imaginário dos mais antigos da cidade. Muitos ainda citam as suas proezas e os seus ditos esquisitos e atrevidos.
Tornaram-se proprietários do Café Luiz da Rocha por via de herança - assim me contaram.
Um, o Luiz, mais sisudo, com ar de intelectual; o outro, o Arnaldo, provocador e extravagante até mais não...
Uma coisa é certa: esse estabelecimento foi fundado em 1893, como consta numa placa ainda hoje afixada na parede fronteira do edifício.
O " Luiz da Rocha" é um ex-libris da cidade, ombreando mesmo com o Castelo, o tal com a torre de 49 metros. Fica situado não numa rua, mas nas Portas de Mértola, por que está numa zona virada para sul onde está a 50 kms, a vila de Mértola. Beja tem também as Portas de Aljustrel, Portas de Moura... consoante a direcção dessas vilas.
O espaço do café, da parte de baixo, ou seja, no 2º salão, era onde ia o "pé descalço", a gente que não era importante. No 1º salão, esse sim, iam as madames bem na vida, mulheres dos ricos agricultores ou de doutores da cidade. E os próprios lavradores, fingindo trabalho árduo no feudo extenso...
As meninas solteiras era quase impossível entrarem no Café. Corriam o risco de perder casamento! Só iriam se acompanhadas pelas respectivas mães e mesmo assim teriam de permanecer com os olhos para baixo e as mãos estendidas sobre a saia.
Os manos proprietários viviam do rendimento que lhes dava o Café "Luiz da Rocha", no "Rossio" de Beja, frente à Papelaria do Correia. Mais tarde fizeram no 1º andar o restaurante de cuja cozinha saíam as melhores TROUXAS DE OVOS do Mundo (garantido), as melhores empadas, os melhores porquinhos de chocolate! E então a bica? Não havia pai p'ra ela...
Antes de aparecerem essas modernices dos frigoríficos, os bolos que diariamente eram feitos, ficavam expostos à saída do Café, sobre um tabuleiro coberto por toalhas de linho.
Para evitar que a malandragem (isto é, a rapaziada) levassem bolos sem pagar, os manos contrataram o Tavares, figura muito conhecida em Beja por ser jogador de hóquei em patins.
Havia uma coisa incontornável na vida do Café - é que desde há muitos anos esses 2 irmãos zangaram-se e assim continuaram para sempre. Estavam lá dentro, cruzavam-se e não se falavam! E por que haviam de falar,se estavam zangados?
Mas estavam lá de manhã e diariamente no Café, eram afinal os primeiros clientes!
Autor: José Jorge, bejense.
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