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Alvitrando

Aqui se dão alvíssaras e trocam ideias sobre temas gerais, o Alentejo e o poder local, e vou dando notícias das minhas reflexões sobre temas da actualidade e de acontecimentos que achar que devem ser divulgados por esta via.

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Encosta-te a mim, ovelha Dolly

Zé LG, 09.02.08

“A ovelha Dolly / Tem um problema / A ovelha Dolly / Está num dilema.

Não sabe / Se ela é mesmo / Ela própria / Ou apenas fotocópia”

Lembrei-me desta história infantil, que tenho contado vezes sem conta ao meu “Pimpolho”, um dia destes, quando reflectia sobre a vida política do nosso país, verificando como ela retrata o estado do PS.

Se tivermos presente como figuras ilustres daquele partido, como Mário Soares, Jorge Sampaio, Manuel Alegre, Ferro Rodrigues, António Arnault e outros, se têm referido à política que o seu partido está a seguir e à necessidade de ter uma prática mais à esquerda de forma a demarcar-se do PSD, é fácil percebermos quão difícil é a vida da ovelha Dolly, perdão, do PS.

Estes tempos mais recentes foram bem reveladores do dilema que o PS está a viver e do problema que tem de resolver para perceber se está a ser ele próprio ou apenas uma fotocópia do PSD. Depois de ter feito um pacto para a Justiça com o PSD, voltou a estar com este partido na recusa do referendo ao Tratado da União Europeia e já chegou a acordo com ele para alterar a lei eleitoral dos órgãos autárquicos.

 

Encosta-te a mim, dá cabo dos teus desenganos / não queiras ver quem eu não sou, deixa-me chegar”.

Também, neste caso, o que parecia ser apenas uma canção romântica de Jorge Palma é também uma cantiga de intervenção política, interpretada por Cavaco Silva.

Cavaco pede a José Sócrates que se encoste a ele e que dê cabo dos seus desenganos, o que ele tem feito, quebrando as suas principais promessas eleitorais, desde o aumento dos impostos até à renúncia ao referendo sobre o Tratado da União Europeia, não querendo ver quem é Cavaco Silva, vai deixando-o chegar, encostando-se a ele.

A cooperação estratégica de que Cavaco falava nas eleições presidenciais está-se a revelar na sua plenitude, com o primeiro-ministro a acatar e seguir as orientações do Presidente da República. Também, neste aspecto, Sócrates parece ser a cópia de Cavaco. E, pior do que isso, parece gostar e cultivar não só o estilo como também a prática…

 

Sócrates tem-se esforçado por fazer passar a ideia de que a sua presidência da União Europeia foi um sucesso e muito boa para o nosso país.

Finge que não percebeu o papel que desempenhou, ou seja, o de mestre-de-cerimónias, enquanto mordomo dos mais fortes.

Organizou cimeiras e cerimónias e até conseguiu que o Tratado se chamasse de Lisboa, onde foi assinado e como antes Guterres tinha conseguido com a Estratégia de Lisboa.

Mas, tal como em relação a esta o balanço que se faz não é nada lisonjeiro para o nosso país, que se afastou ainda mais da média europeia, daqui a alguns anos também vamos ver o que (não) ganhámos com todo este espectáculo.

Depois da euforia da presidência da União Europeia, Sócrates regressou ao país, mas tarda a regressar à realidade deste país.

Encerrado o ciclo das cerimónias, queimados os últimos foguetes, passado o testemunho e gozadas umas férias, começou a cair na real. Antes ainda aproveitou a mensagem de Natal para tamanha propaganda da sua acção que logo foi posto na ordem pelo Presidente da República, na sua mensagem de Ano Novo.

Os primeiros dias de Janeiro mostraram como Sócrates tem dificuldades em lidar com a realidade: O querer pagar em duodécimos os retroactivos aumentos das reformas, mostrando a insensibilidade social; a recusa de fazer o referendo ao Tratado de Lisboa, preferindo submeter-se a compromissos comunitários a respeitar compromissos com os portugueses; a rapidíssima decisão de construir o novo Aeroporto de Lisboa no Campo de Tiro de Alcochete, apresentada como a melhor solução com a mesma convicção com que antes fora a OTA.

Não é por acaso que muitos anseiam por uma remodelação do governo. É porque já perceberam que é a melhor forma para que tudo continue na mesma.

O mal deste governo, como dos outros, não é deste ou daquele ministro apenas, é da política e das políticas que aplica. Enquanto estas continuarem, aplicadas pelos originais ou pelas cópias, a insatisfação popular vai continuar.

 

Alvito, 14 de Janeiro de 2008

Publicado na revista Mais Alentejo nº 79

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