O Alentejo continua a ir fundo
Já me tenho convencido que isto bateu no fundo, que pior não pode ficar. Mas, infelizmente, tenho-me enganado.
É terrível o desengano, o sermos confrontados com uma realidade ainda pior do que a que julgámos existir.
Os dados dos Anuários Estatísticos Regionais do Instituto Nacional de Estatística, publicados nestes últimos dias, sobre o Alentejo são terríveis, porque nos mostram que:
- a região continua a perder população, apesar dos baixos índices demográficos que já regista e dos muitos imigrantes que aqui se fixaram e constituem já uma percentagem significativa da população activa;
- é a região onde o desemprego atinge a taxa mais elevada - 9,2% da população activa não tem emprego e os jovens são os mais atingidos por aquela chaga social;
- é a região onde menos famílias (35%) têm computador.
Certamente que haverá outros indicadores ainda que confirmam a depressão que atinge o Alentejo.
Depois de três quadros comunitários de apoio que co-financiaram, com muitos milhões de euros, investimentos públicos e privados e apoiaram actividades na região, de um sem número de planos de desenvolvimento regional, estratégicos e outros, todos eles perspectivando a melhoria da situação, verificamos, com a crueza dos números, que esta tem piorado.
Depois de em todas as campanhas eleitorais, para todos os órgãos de soberania e autárquicos, ter sido por todos prometida a melhoria da situação no Alentejo, verificamos que não foi isso que aconteceu.
Será que sem aqueles investimentos e planos, sem aquelas promessas e políticas, a situação ainda seria pior?
Ou será que ainda não fomos capazes de encontrar os melhores caminhos para enfrentar a crise que atinge a região e as soluções para os problemas reais e que as medidas aplicadas só têm servido para prolongar aquela crise e passar ao lado dos problemas?
Será que os grandes investimentos em curso ou em carteira e este Quadro de Referência Estratégica Nacional vão alterar ou confirmar este estado depressivo da região?
Embora achando importantes os investimentos nas áreas dos serviços e do turismo, parece-me que o que mais poderá contribuir para alterar o estado da região será o investimento nas áreas produtivas.
Se assim for, há investimentos em curso – as minas de Neves Corvo e as de Aljustrel, recentemente reactivadas, e, ainda eventualmente, as de ouro, se confirmarem os melhores resultados das prospecções já realizadas; os mármores e outras rochas; os regadios potenciados pelo empreendimento de Alqueva; a indústria transformadora dos produtos agrícolas e pecuários; algumas indústrias aeronáuticas ou potenciadas pela criação do aeroporto de Beja e melhoria dos aeródromos de Évora e Ponte de Sôr, etc. – que, valorizando os nossos recursos, poderão desencadear, finalmente, um desenvolvimento sustentado da região.
Naturalmente que a formação académica e profissional deverão contribuir para preparar as pessoas para este desafio, para o que é necessário orientá-la mais no sentido das necessidades efectivas das pessoas, da região e do país e menos da estrutura existente, que privilegia a sua sobrevivência.
Devemos procurar centrar-nos no que pode ser essencial e decisivo para a alteração do estado da região e não nos dispersarmos muito no que, podendo ser interessante, pouco contribui para esse objectivo maior.
Vamos ver até quando nos vamos desenganando e assistindo ao afundar do Alentejo.
Lido na Rádio Terra Mãe, em 17 de Janeiro de 2008