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Alvitrando

Aqui se dão alvíssaras e trocam ideias sobre temas gerais, o Alentejo e o poder local, e vou dando notícias das minhas reflexões sobre temas da actualidade e de acontecimentos que achar que devem ser divulgados por esta via.

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Aqui se dão alvíssaras e trocam ideias sobre temas gerais, o Alentejo e o poder local, e vou dando notícias das minhas reflexões sobre temas da actualidade e de acontecimentos que achar que devem ser divulgados por esta via.

A qualidade da democracia

Zé LG, 06.12.05
Cada vez se fala mais na qualidade da democracia. Isto terá a ver com alguma insatisfação que esta democracia provoca nas pessoas. Efectivamente ela apresenta falhas, incorrecções e perversões, sendo frequentemente subvertida.
“A democracia é o menos mau de todos os regimes” ou, por outras palavras, “é o pior regime tirando todos os outros”. Mas se isto é uma realidade, talvez não tão óbvia quanto alguns pretendem fazer crer, não é menos verdade que a democracia actual não satisfaz razoavelmente as pessoas.
A democracia tem o seu ponto alto nas eleições. Estas devem ser livres – cada um deve ter condições para expressar o seu voto / vontade sem constrangimentos e gerais, abrangendo todos os que integram o universo sobre que incidem.
Ora, o que se verifica é que há eleições que não são uma coisa nem outra. Nem são livres, porque muitos são coagidos, pelas mais diversas formas, a votar num determinado sentido, nem são gerais, porque são cada vez mais os que se abstêm de votar, porque acham que o seu voto para nada serve.
Os poderes económicos, partidários, mediáticos, entre outros, condicionam fortemente o voto das pessoas.
A promessa de emprego ou a ameaça de desemprego, as ofertas em períodos eleitorais, a perspectiva de carreira ou a ameaça de exclusão de participação partidária ou pública, a apresentação ou ignoração mediática condicionam e de que maneira o comportamento e o (des)conhecimento das pessoas.
São conhecidos exemplos de ofertas de avios, electrodomésticos, empregos, carreiras, ultrapassagens em listas de espera ou concursos em períodos eleitorais, tais como a dificultação de acesso a empregos, carreiras ou outras situações em determinadas empresas.
São igualmente conhecidos exemplos de exclusão partidária de quem expressa publicamente as suas opiniões criticas das direcções.
São ainda e cada vez mais frequentes as situações de desigualdade provocadas pelos meios de comunicação social.
Lembremo-nos só de alguns exemplos recentes.
Os dois últimos primeiros-ministros - Santana Lopes, do PSD e José Sócrates, do PS - participaram ambos num programa televisivo durante meses consecutivos. Parecem as duas faces da mesma moeda…
Alguns presidentes de câmara só se candidataram aos seus cargos depois de se terem tornado conhecidos pela sua participação em programas televisivos.
Os casos de Gondomar, Oeiras e Felgueiras, em que os respectivos presidentes de câmara ganharam projecção mediática pelos processos que contra eles correm nos tribunais, mostram que o que importa é que a comunicação social fale deles. Não importa se diz mal ou bem, o que interessa é que fale neles, porque se tal acontece é porque são importantes e as pessoas gostam de estar com os importantes. E, por isso, foram eleitos novamente apesar de se candidatarem contra as direcções nacionais dos seus partidos.
Quantas pessoas conseguem dizer os nomes dos outros candidatos àquelas câmaras municipais?
Agora está a decorrer a pré-campanha eleitoral para a Presidência da República. Alguém é capaz de indicar todos os que já anunciaram as suas candidaturas? Não acredito! Mas, entretanto, tudo tem sido feito para que a disputa seja apresentada como sendo exclusivamente entre dois candidatos, um à esquerda e outro à direita, apoiados pelos partidos, que têm estado no governo.
O aparecimento de uma terceira candidatura da área do poder, não só independente dos partidos como surgida contra o partido de origem, e a de outras duas dos principais responsáveis dos respectivos partidos com assento parlamentar veio baralhar a situação.
Neste momento o debate já não é só entre dois mas pelo menos a três ou a cinco. Mas continua-se a ignorar outros...
Tal como no futebol, pretende-se apresentar os candidatos como fazendo parte de campeonatos diferentes. Ou seja, antes das pessoas votarem já poderes mais ou menos ocultos escolheram quem pertence a cada um dos campeonatos…
Tudo isto subverte a democracia. É, por isso, tempo de reflectir e procurar os meios adequados para melhorar a qualidade da democracia.


Texto da minha crónica publicada no último número da revista Mais Alentejo.

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