Talvez eu não perceba o que se está a passar
… mas parece-me que o governo português (como, antes, o grego e, agora, o espanhol) percebe ainda menos do que eu mesmo ou finge não perceber o que se está a passar.
O caldo já entornou. A confiança que tem de existir entre o povo e o governo, como em qualquer relação, já se foi. O respeito que os titulares de cargos públicos devem merecer dos cidadãos já se perdeu por responsabilidade destes.
O que as manifestações que se vão multiplicando de forma, mais ou menos, inorgânica, convocadas pelas redes sociais revelam é que as pessoas estão a ficar desesperadas, sem vislumbrar qualquer saída para a crise e fartas de serem sempre os mesmos a suportar os custos das malvadezas dos poderes.
Não creio que a situação se possa manter com operações de cosmética, por mais ardilosas que sejam apresentadas. O problema não é de comunicação, ao contrário do que os situacionistas se esforçam por demonstrar.
O problema é do sistema, que ao contrário do que sempre fez – regenerar-se, apresentando como da sua responsabilidade as conquistas civilizacionais -, está a ultrapassar todas as marcas e se recusa ou mostra incapaz de compreender o que se passa e, consequentemente de, mais uma vez, se regenerar.
Todos sabemos, mais ou menos, como chegámos aqui. Ninguém parece saber onde vamos chegar e como lá vamos parar. Nunca o sistema se confrontou consigo próprio, por sua exclusiva responsabilidade. É a primeira vez que tal acontece. Será que os que defendemos outras alternativas a este sistema somos capazes de aproveitar esta oportunidade e de construir uma alternativa credível?