«… Durante a Faculdade... só “A Bola” e uma revista sobre caça e pesca o ocupavam. … Na escola, onde desde há 30 anos que dá aulas da mesma maneira, como se o mundo e a ciência tivessem parado no tempo, nunca ninguém o ouviu emitir uma opinião sobre o que quer que fosse… Fora da escola o seu tempo reparte-se entre a televisão, ..., a oficina..., a caça e a pesca aos fins-de-semana e... ver e discutir futebol e beber uns copos com os amigos. ... Desinteressado e ignorante das coisas da cultura... De política também pouco sabe, de que fugia com a expressão lapidar: “Disso não sei nem quero saber, a minha política é o trabalho”. Hoje, a dois anos da reforma, vive mergulhado numa escola e num mundo que desconhece, totalmente desprovido dos instrumentos mínimos para a sua compreensão. Impotente clama por autoridade. Nas últimas eleições legislativas saiu da abstenção crónica para votar no partido “Chega” e na sua oficina, onde cada vez passa mais tempo, já tem, em grande, uma fotografia emoldurada de André Ventura.» Constantino Piçarra, crónica, e Joaquim Rosa, ilustração, aqui.