Quando deitamos papéis fora – principalmente documentos e apontamentos – é como se deitássemos fora partes das nossas memórias. Memórias que nunca mais se recuperam, tal como esses papéis. Mesmo quando deles sentirmos necessidade, fosse conveniente tê-los à mão ou, simplesmente, nos apeteça relembrar o que neles estava registado.
Para mim é sempre doloroso esse acto de me desfazer de papéis que fui guardando ao longo dos tempos e que guardavam memórias, retalhos da minha vida. Por isso, vou adiando até que posso desfazer-me deles. Mas a falta de espaço para os guardar e de tempo para os arrumar de forma organizada acaba por impor que deles me desfaça.
E nesse simples gesto são também bocados de mim – da minha vida, da minha memória – que deito fora. Desta vez, foram, principalmente, documentos e apontamentos (estes únicos, porque pessoais) do período do mandato em que fui vereador (na oposição) da Câmara Municipal de Alvito que deitei fora.