Realizaram-se mais umas eleições, desta vez antecipadas pela arrogância, teimosia e cegueira política de José Sócrates, para a Assembleia da República (e não para primeiro-ministro, como se banalizou apresentá-las).
Mais uma vez, a abstenção subiu e voltou a ganhar a maioria dos eleitores, apesar dos apelos ao voto dos candidatos e da ameaça/chantagem do Presidente da República de que quem não votasse não teria legitimidade para criticar quem fosse eleito.
Mais uma vez os candidatos e apoiantes mais empenhados se envolveram e se esfalfaram numa campanha eleitoral demasiado longa e dispendiosa, que pouco esclareceu e muito menos decidiu.
Será que os partidos e os líderes políticos e os órgãos de soberania reflectem sobre porque é que tudo isto acontece? Se o fazem porque não tomam medidas para alterar “o que já deu” e criar novos mecanismos que facilitem a participação das pessoas na política, a começar pelo voto?
Será que se interrogam sobre as razões que levam quase metade dos eleitores a não votar ou a anular o seu voto ou a votar em branco ou porque é que votam da maneira que o fazem?
As pessoas quando votam fazem-no porque esperam que o poder eleito contribua para resolver os seus problemas ou que, pelo menos, não aumente as suas dificuldades e que contribua para o desenvolvimento do país e a melhoria da sociedade. Por isso, algumas vezes, mais do que escolher o que acham melhor, optam por votar no mal menor ou, mesmo, na mudança porque estão fartas “dos que lá estão”, como aconteceu, claramente, nestas eleições.
Ou seja, as pessoas, que e quando votam, procuram dar utilidade ao seu voto. Nem sempre o fazem tendo em conta o mais importante, mas fazem-no quase sempre em função do objectivo mais imediato. Neste caso, isso foi evidente: o que importava, em termos imediatos, era correr com José Sócrates e a única solução credível para o conseguir era, sem dúvida, votar no PSD.
Mas há cada vez mais gente descontente, desencantada ou, mesmo, revoltada com este modelo de democracia. Dos que se sentem revoltados, existem os que acham que existem alternativas à alternância democrática do “centrão” e votam nos partidos ditos “de protesto”, nos pequenos partidos ou em branco ou anulam o seu voto. São os que ainda acreditam no voto.
Os descontentes ou desencantados já estão noutra, já não acreditam nessa transformação e, por isso, “já não dão para esse peditório” não votando.
É evidente - ou não é? -, que não é ameaçando-os e atirando-os pela borda fora do regime – onde eles já se encontram -, que se “recuperam” para voltar a acreditar nele e nas suas virtualidades e se convencem a votar.
O regime democrático tem de ser regenerado e, para isso, tem de contar com as pessoas, fomentando nelas a cidadania, o que implica que o poder político – os partidos, os órgãos de soberania e demais poderes públicos -, respeitem as pessoas, falem verdade, prometendo apenas o que acham que podem cumprir e não “adocem a pílula” quando as coisas não estão bem, cumpram as promessas que fazem e justifiquem porque não cumpriram as que não puderam cumprir, e criem mecanismos de participação em que ninguém se sinta excluído ou desresponsabilizado. E, acima de tudo, tem de ser capaz de satisfazer as expectativas que gera e as necessidades das pessoas.
Voltando, e para terminar, às eleições: as campanhas eleitorais podiam ser encurtadas para a semana que antecede a votação, acabando com o ridículo “dia de reflexão” – alguém acredita que alguém aproveite a véspera do dia da votação para reflectir e decidir em quem é que vai votar?!!! -; o tipo de campanha eleitoral deve ser revisto – quantas pessoas alteram ou decidem o seu voto em função do folclore eleitoral? -; as sondagens e a divulgação dos seus resultados devem ser disciplinados, de forma a traduzirem o sentido de voto dos eleitores e não a condicioná-lo.
06.06.2011
Publicado n revista Mais Alentejo, nº 106.