Tive a paciência de ouvir toda a entrevista de Judite de Sousa ao primeiro-ministro, na RTP, e retive alguns "pormenores":
- José Sócrates começa a maioria das frases com "na verdade é que...". A psicanálise explica porquê...
- O primeiro-ministro justificou as medidas de austeridade com a necessidade de garantir a credibilidade de Portugal junto dos "mercados financeiros". Será que José Sócrates ainda terá credibilidade nesses e noutros "mercados", a começar no dos votos?...
- José Sócrates repetiu, por diversas vezes, que é preciso ter coragem para tomar as medidas que tomou. Será mesmo coragem a palavra indicada para classificar continuar a "bater" - desta vez com toda a força -, nos mais fracos? Eu julgava que era cobardia, subserviência aos "mercados financeiros", traição a princípios e valores, a promessas feitas, aos que nele acreditaram...
- O primeiro-ministro afirmou pretender, com estas medidas, igualar o défice da Alemanha em 2011. À custa dos mais necessitados, dos trabalhadores das micro, pequenas e médias empresas, arruinando a economia e aumentando ainda mais o desemprego bem podia ter acrescentado...
- Não garantiu o cumprimento do compromisso de aumentar o salário mínimo nacional, dizendo que isso dependeria das negociações que vão ter lugar.
Em resumo, José Sócrates perdeu de tal modo o pé à realidade, o bom senso, a noção das responsabilidades e, principalmente, a credibilidade que só quem ande muito distraido ou seja muito faccioso lhe pode reconhecer. Por mais que fale no interesse nacional, por mais que se mostre condoído com as consequências das medidas que divulgou, por mais que afirme que "na verdade é que...", já não sou capaz de acreditar numa só palavra sua.