Defendo a renovação e rejuvenescimento das organizações em geral e do PCP em particular. Mas também defendo que tal não se deve fazer a qualquer preço e muito menos para mascarar o primeiro daqueles dois princípios. Ou seja, usar o rejuvenescimento - a substituição de quadros menos jovens por outros mais jovens -, para dar a entender que se está a renovar - ideias, princípios, programa, propostas, políticas, prática, funcionamento, organização -, mantendo tudo, mais ou menos, na mesma ou, pior ainda, acentuando tudo o que tem contribuído para dificultar uma maior afirmação da organização (PCP) e do seu desenvolvimento junto público-alvo (eleitores).
O rejuvenescimento não deve ser um fim em si mesmo mas deve contribuir para a renovação da organização (PCP). Se se substitui um quadro menos jovem, embora ainda dando provas da sua capacidade de entender, interpretar e intervir sobre a realidade com o objectivo de a melhorar, tornando-a mais consentânea com os objectivos apontados, por outro mais jovem mas menos capacitado e/ou com ideias mais retrógradas não se está a contribuir para a renovação.
Não conheço João Ramos nem ponho em causa as suas capacidades e ideias, pelo que não ponho em causa que possa vir a ser um bom deputado.
Mas conheço José Soeiro e o trabalho que desenvolveu como deputado (para além de todo o seu percurso anterior) e julgo que, partilhando a opinião de muita gente, incluindo adversários políticos, se pode afirmar que foi, senão o melhor, um dos melhores deputados pelo Distrito de Beja. Então porque foi substituído? Por ser velho, com 63 anos? Porque "vai continuar noutras frentes de luta"? Para "cumprir a vontade da Direcção Central" do PCP?
Mas nesta substituição, as dúvidas não ficam por aqui. Porque não foi chamada a substituir José Soeiro a segunda da lista de candidatos, a Maria da Fé? Não é também jovem? Não é também da DORBE? Não tem capacidade para desempenhar o cargo? Então porque integrou a lista no segundo lugar? Foi apenas para cumprir a quota?
A CDU apresentou uma lista ao eleitorado, segundo uma certa ordem. Quando os eleitores votaram nela fizeram-no no pressuposto de que, salvo motivo de força maior ou com justificação compreensível, os eleitos cumpririam o seu mandato na legislatura. E, também, no pressuposto de que se o(s) eleito(s) fosse(em) substituído(s) o seria(m) por quem estivesse a seguir na lista, salvo motivo de força maior ou com justificação compreensível.
Não tendo sido cumpridos estes pressupostos (compromissos com o eleitorado) a Direcção Central do PCP, cuja vontade, de substituir José Soeiro ao fim do primeiro ano da legislatura, foi cumprida, deve explicações e justificações ao Partido – aos seus militantes – e aos eleitores. Se não o fizer rapidamente a Direcção Central do PCP está a contribuir, uma vez mais, para quebrar a relação de confiança que deve manter com o Partido e este com os eleitores.