Ainda não há muito tempo, num governo igualmente do PS e integrando José Sócrates, era apontada a política social de emprego como uma das traves mestras distintivas da governação do PS.
Bastou menos de meia dúzia de anos para que tal orientação estratégica e distintiva fosse esquecida e substituída pelo Plano Tecnológico.
Embora uma e outra orientação não sejam antagónicas e possam conviver, o que se verifica é que o primeiro-ministro nunca fala em política social de emprego, principalmente como sendo uma orientação estratégica deste governo e, por outro lado, fala sempre do Plano Tecnológico.
Alguém ouviu o primeiro-ministro a explicar aos seus homólogos a importância da política social de emprego e de como é que está a ser concretizada no terreno? Mas todos o vimos e ouvimos, como um qualquer vendedor, a promover o “Magalhães” numa reunião de chefes de Estado e primeiros-ministros.
Naturalmente que nada tenho contra o progresso técnico e científico a não ser quando ele tem como principais finalidade e consequência a acentuação da exploração do homem pelo homem.
Nesta altura, já oiço os bens instalados a insurgirem-se contra esta expressão e a catalogarem-me de pré-histórico e ortodoxo marxista ou marxista-leninista, conforme a indignação e a formação de cada um.
Mas, digam lá se os “velhos chavões” como a “luta de classes” e a “exploração do homem pelo homem” não se mantêm actuais e se não definem bem o que tem vindo a acentuar-se?
Sempre que é aprofundado o conhecimento científico e este transformado em ferramentas da acção do homem podemos afirmar que há progresso científico mas nem sempre podemos garantir que há desenvolvimento humano. Para podermos garantir que “quando um homem sonha o mundo pula e avança” é preciso que as novas técnicas e tecnologias sejam colocadas ao serviço de toda a Humanidade.
Voltando ao princípio deste texto, quando o PS falava em política social de emprego certamente pretendia dizer que o desenvolvimento científico traria consigo o progresso técnico e tecnológico e que este provocaria o desenvolvimento das sociedades, de que resultariam (e pode resultar, assim o queiram), cada vez mais, cidadãos com mais tempo livre, quer porque seria possível reduzir o tempo diário e semanal de trabalho quer porque seria possível reduzir a idade mínima de reforma.
Desta circunstância, da colocação efectiva das novas técnicas e tecnologias ao serviço dos cidadãos, resultariam novos mercados, como o mercado social de emprego e o crescimento da indústria do turismo e do lazer, que animariam os tempos livres daí resultantes.
Isto assim escrito e, principalmente, nesta altura pode parecer um “conto de fadas”, que tem como único objectivo adormecer crianças mais resistentes, nestas noites frias de Inverno.
Mas meus caros leitores, a quem aproveito para louvar a paciência, este “conto de fadas” pode ser o tal “sonho” que quando um homem o tem “o mundo pula e avança”.
E aqui entra, mais uma vez, a também “velha história” da divisão do bolo, que os acontecimentos mais recentes tão bem têm posto à evidência – não é aumentando o bolo que o tamanho das fatias fica mais equilibrado, se o bolo for repartido mais equitativamente é mais provável que os comensais se esforcem de maneira mais equilibrada em fazer bolos maiores.
A crise actual não se deve apenas à promessa de fatias do bolo para além das possíveis mas, e talvez principalmente, porque alguns se alambazaram com o bolo quase todo. E a prova disso é que os que se alambazaram continuam bem e, mesmo que alguns venham a ter alguns problemas para parecer que a justiça funciona, já ninguém lhes tira o proveito que tiveram, os que acreditaram na promessa de uma fatia ou tiveram uma fatia pequena ficaram pior do que já estavam e os Estados vão tapar os buracos com fatias dos bolos que diziam não existirem e não quiseram distribuir.
Um bom ano cheio de saúde, paz e solidariedade e muita resistência às novas palavras que escondem velhos e injustos princípios é o que vos desejo a todos, mesmos aos que comigo não concordam.
Alvito, 02.12.2008
Publicado na revista Mais Alentejo nº 88.