Sempre tive dificuldade de compreender e, principalmente, de aceitar que Portugal, sendo um dos poucos países com boas condições para produzir azeite, tivesse chegado a uma situação em que tinha, e ainda tem, de importar uma significativa percentagem do que consome.
Por isso mesmo vi com normalidade as crescentes plantações de novos olivais e sem grande surpresa a “invasão espanhola”, principalmente à medida que os perímetros de rega a partir da albufeira de Alqueva começaram a ser instalados no terreno.
Nunca me preocupou muito o perigo de se cair numa nova monocultura, porque me parece que tal nunca acontecerá, pelas áreas ocupadas por maiores que sejam.
No entanto, não deixei nem deixo de me interrogar sobre se, nalguns casos, a plantação de olivais e a, consequente, produção intensiva de azeite será a melhor utilização a dar a algumas terras e áreas de regadio.
E, ainda, que, para plantar olivais, se tivessem de arrancar montados de azinheiras e sobreiros, não só por se tratar de espécies protegidas mas também por reduzir ainda mais ecossistemas dos mais completos e adequados à realidade da nossa região.
É isto precisamente o que a QUERCUS, fazendo jus ao seu nome, veio denunciar estar a acontecer nalguns casos.
E se tal situação é grave pelas razões que referi torna-se (quase) criminosa se foi, como foi denunciado, autorizada pelo Ministério da Agricultura.
Tenho igualmente dúvidas, talvez porque não sou especialista na matéria, se a cultura tão intensiva, como parece estar a ser feita em muitos casos, seja a melhor solução em termos de preservação de solos e de qualidade e de competitividade do produto.
Se em relação à qualidade e à competitividade do azeite é compreensível que as empresas que estão a plantar os olivais acautelem a necessária avaliação de riscos, já em relação à eventual degradação de solos e a outros eventuais problemas ambientais deve competir ao governo tudo fazer para evitá-los.
Esperemos que esta revolução, que está a verificar-se nos campos da nossa região, produza os melhores resultados económicos e sociais e não provoque danos ambientais irreparáveis ou de difícil recuperação, a médio ou longo prazo, como aconteceu com a campanha do trigo há umas décadas atrás.
Se tais riscos forem, adequada e oportunamente, ponderados e combatidos e se todos, a começar pelo governo, através, principalmente, dos ministérios da Agricultura e do Ambiente, fizerem, como lhes compete, o trabalho de casa tal situação não acontecerá.
É isso que se espera, é isso que se exige!
Lido na Rádio Terra Mãe, em 26.03.2008