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Francisco Felgueiras faleceu há dez anos, no dia 22 de Fevereiro, três dias depois do seu aniversário. Hoje faria 60 anos.
A Revolução dos Cravos apanhou-o quando ele trabalhava numa seguradora, na margem sul da grande Lisboa.
Com a nomeação de Brissos de Carvalho para Governador Civil de Beja, logo a seguir a 25 de Abril de 1974, Francisco Felgueiras foi nomeado seu adjunto.
Foi assim que veio para Beja. Aqui, no exercício daquelas funções, acompanhou os processos de criação do Sindicato dos Trabalhadores Agrícolas e da Reforma Agrária.
Em 12 de Dezembro de 1976, nas primeiras eleições livres e democráticas do Poder Local Democrático, foi eleito presidente da Câmara Municipal de Cuba, cargo que exerceu durante dois mandatos e lhe granjeou grande simpatia junto da população daquele concelho, onde foi enterrado.
A seguir foi eleito presidente da Câmara Municipal de Ourique, que arrebata ao PSD, exercendo o cargo durante um mandato.
Mais tarde, trabalhou na Associação de Municípios do Distrito de Beja (AMDB, hoje AMBAAL), de que foi um dos seus fundadores e primeiros dirigentes, quando presidente da Câmara Municipal de Cuba.
Finalmente, foi presidente da Região de Turismo da Planície Dourada, que ajudou a criar. Foi, neste período, que perdeu a vida num acidente de viação, junto aos Coitos, perto de Beja.
Conheci Francisco Felgueiras algum tempo depois de ter vindo para Beja, mas foi, a partir de 1989, quando fui eleito presidente da AMDB, que com ele passei a privar e nos tornámos amigos.
Trabalhámos íntima e intensamente na AMDB, onde eu era presidente e ele administrador-delegado, e na Região de Turismo da Planície Dourada, onde eu, também, era presidente e ele vice-presidente, substituindo-me frequentemente nestas funções e tendo-me substituído definitivamente quando renunciei ao cargo, quando fui eleito presidente da Câmara Municipal de Alvito.
Esta relação de proximidade, que mantivemos até ao seu falecimento, permitiu-me conhecer bem Francisco Felgueiras.
Sendo originário de uma família conservadora da burguesia nortenha, cedo abraçou a causa dos trabalhadores e dos mais desfavorecidos, o que o levou a aderir ao PCP, a que se manteve ligado até à morte.
Era um visionário. Não se preocupava apenas com o presente e o futuro mais próximo. Queria ver mais longe e intervinha em função disso. Era muito inteligente e perspicaz. Apercebia-se e compreendia com facilidade o que outros tinham dificuldade em alcançar. Esteve sempre com as ideias e os projectos mais avançados para a região.
Era um homem bom. Tinha uma generosidade sem limites. O que tinha era de todos. Sempre atento e preocupado com os outros. Sempre disponível para ouvir os outros e dar-lhes os seus conselhos e opiniões, quando lhe pediam. Não éramos poucos os que a ele recorríamos sempre que nos encontrávamos em dificuldades e precisávamos de ajuda, de uma palavra sábia, amiga e de confiança…
Francisco Felgueiras não foi nem queria ser um santo. Tinha os seus defeitos e cometeu os seus erros. Tinha dias bons, em que era de uma simpatia e capacidade de trabalho quase insuperáveis, como tinha dias maus, em que era difícil de aturar. Era humano.
Mas o que fez pelos outros, designadamente pelos alentejanos, e pela nossa região foi muito, tanto como poucos fizeram. Não o devemos esquecer. Eu não me esqueço.
19 de Fevereiro de 2007
Lopes Guerreiro
Publicado na edição de hoje do Diário do Alentejo