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Quis o destino que Alvito se cruzasse pelo caminho de Catarina Vilaça de Sousa. Foi durante uma visita pontual a esta vila, num fim-de-semana que se previa de lazer, que a jovem historiadora de arte se deparou com todo um vasto e rico espólio de pinturas murais espalhados pelas igrejas do concelho. O fascínio deu lugar a um trabalho de investigação científica, que por sua vez deu azo àquilo que é hoje conhecido como o projecto Rota do Fresco. Um sonho que se tornou realidade, primeiro apenas em Alvito, depois em todos os cinco concelhos que compõem a Amcal.
Um projecto cujo nome foi gizado a pensar no marketing associando a ideia de fresco por oposição ao calor que se sente no Alentejo e que segundo Catarina Vilaça de Sousa assenta num paradigma de "revitalização patrimonial", no qual se pretende ir além dos circuitos turísticos, de modo a "voltar a dar vida a um conjunto de outras valências". "Utilizamos ao máximo a ferramenta turística para servir esses propósitos de desenvolvimento sustentado. É um projecto extremamente amplo e muito abrangente nos objectivos que pretende atingir e também por isso complexo de levar a cabo", vinca a coordenadora da Rota do Fresco.
A sensibilização da população local é outro dos "pontos de honra" do trabalho desenvolvido no âmbito do projecto, com todas as intervenções a serem realizadas "de portas abertas", por forma a que a população local possa assistir aos trabalhos e assim "evitar que se façam intervenções menos cuidadas, motivadas pela curiosidade e que a cal permite tanto".
O espólio da Rota do Fresco abrange 45 exemplares, sendo que apenas 18 integram os vários circuitos que a compõem. Uma opção que a coordenadora justifica pela necessidade de renovação constante do produto a apresentar aos visitantes, já que uma mesma pintura "renasce várias vezes", mediante o trabalho constante de investigação científica que é realizado. "Em vez de procurarmos esgotar os edifícios em muitas rotas, o que fazemos é pensar que sempre que queremos renovar temos um grande repositório doutras igrejas a mostrar", sustenta.
Um património que desde 2001 já foi visitado por 4000 interessados, na sua maioria provenientes da área da Grande Lisboa e do Centro do País, mas que segundo Catarina Vilaça de Sousa parece merecer poucos apoios por partes das instituições governamentais, apesar da obra feita no âmbito da Rota do Fresco.
"Vamos para a terceira intervenção em três anos e desafio qualquer projecto a mostrar tanto trabalho quanto o nosso. Três intervenções em três anos, todos com recurso a mecenas, penso que somos os únicos do País a poder dizer isso. E isso devia ser incentivado", assevera, embora realce o importante apoio prestado pela Região de Turismo Planície Dourada, que na sua opinião "tem sido um braço direito fortíssimo do projecto" ao longo dos anos.
Os recursos necessários acabam por vir da Amcal e do bolso de mecenas que são cativados pelo projecto. Um trabalho de persuasão que Catarina Vilaça de Sousa vinca ser de difícil concretização, mas que tem vingado pela "excelência" e "grande qualidade" da Rota do Fresco. "[Este projecto] É um bocadinho o exemplo de que é possível trabalhar a um nível de excelência aqui no Alentejo".
Relativamente ao futuro da Rota do Fresco, a coordenadora revela existirem duas ambições. Uma primeira passa pelo alargamento do projecto a algumas casas senhoriais, para se mostrar a diferença entre a pintura mural de cariz religioso e "uma pintura apenas com propósitos decorativos". Outro alvo que Catarina Vilaça de Sousa gostaria de concretizar era o de garantir a continuidade do projecto além de si. "Eu estou agora cá, mas posso não estar amanhã e o melhor trabalho, o mais importante, é sensibilizar as pessoas de cá. É a única forma de garantir que, independentemente de quem esteja à frente do projecto, aquele continue amanhã", conclui.
in DA
Esta é também uma forma de prestar homenagem a Catarina Vilaça de Sousa por tudo o que tem feito por este projecto e por esta região. Bem Haja!