DISCURSO DO ELEITO DO PBCT NA SESSÃO COMEMORATIVA DO 25 DE ABRIL
Mais um ano se passa sobre a gloriosa gesta de Abril de 1974 que tantas e tão profundas mudanças propiciou a um País e um Povo que se encontrava prisioneiro da mais duradoura ditadura que a Europa tinha conhecido.
Quase meio século que nos fez parar no tempo, sem esperança nem direção.
“Dão-nos um bolo que é a história
da nossa historia sem enredo
e não nos soa na memória
outra palavra que o medo”
Assim caracterizava Natália Correia a ditadura, num poema superiormente cantado por José Mário Branco.
Quarenta e três anos passados, a mudança é, felizmente, evidente.
Mudança visível na qualidade de vida alcançada (em 1970 mais de metade das habitações em Portugal não tinham água canalizada!), na saúde, na educação, na segurança social, no emprego…
Mas também, nos níveis de exigência!
Queremos cada vez mais e melhor, porque sentimos que a isso temos direito!
E, sobretudo, queremos generalizar esses direitos.
“A sede de uma espera só se estanca na corrente” cantava Sérgio Godinho.
Libertado e fortalecido pelo 25 de Abril de 74, o novo Poder Autárquico Democrático foi, é e será sempre um agente de mudança particularmente importante.
Foi determinante na melhoria de condições de vida das populações, generalizando os acessos a água canalizada, eletricidade, saneamento básico, etc.
Estabelecidas essas condições básicas de vida, o Poder Autárquico Democrático centrou-se, naturalmente noutros objetivos, cada vez mais elaborados, cada vez mais exigentes e diversificados.
Houve e há ainda erros?
Claro que sim!
Mas o balanço global é claramente positivo.
Poder-se-á exigir mais e melhor?
Claro que sim!
É esse o sentido de “inquietação” que foi tão bem expresso por José Mário Branco:
“Cá dentro inquietação, inquietação
É só inquietação, inquietação
Porquê, não sei
Mas sei
É que não sei ainda
Há sempre qualquer coisa que eu tenho que fazer
Qualquer coisa que eu devia resolver
Porquê, não sei
Mas sei
Que essa coisa é que é linda!”
Aqui deixo uma Inquietação para o futuro:
Portugal em geral e o Alentejo de forma muito particular, foi construindo a sua cultura e identidade ao longo de séculos de mescla de contributos de muitos povos e de muitas culturas.
Dos primitivos povos ibéricos aos celtas, dos mercadores fenícios aos cartagineses e, sobretudo, romanos, dos visigodos aos árabes (nossos familiares e vizinhos magrebinos), todos nos influenciaram e de todos herdamos partes significativas da nossa cultura.
Tantas diferenças, tantos contributos, tanta riqueza cultural de que beneficiámos para ser quem somos hoje!
Felizmente existe a diferença! Se fossemos todos iguais a vida seria muito menos interessante, muito mais monótona e monocromática.
A inclusão da diferença torna-nos mais capazes, mais enriquecidos, melhores pessoas.
Lutar pela Inclusão é um imperativo de consciência e um compromisso político solene que deveria ser por todos assumido, enquanto conceito abrangente de cidadania ativa, participativa e exigente.
Todos beneficiamos ao acolher a diferença e ao torna-la parte integrante de nós próprios, quer enquanto indivíduos, quer enquanto coletividade.
Lutemos pois por uma efetiva Inclusão social.
Estaremos, assim, a honrar Abril e a manter vivo e atual o seu espírito libertador de democrático.
Viva o 25 de Abril!
Sempre!
José Pedro Oliveira, eleito do "Por Beja Com Todos" na Assembleia Municipal de Beja