A transferência do jogador de futebol português, da Madeira, Cristiano Ronaldo do Manchester United para o Real Madrid tem sido objecto dos mais diversos comentários.
Curiosamente, ou talvez não, foram os “homens da bola” que mostraram melhor entendimento do acontecimento e, com os seus comentários, o colocaram no plano mais correcto.
José Mourinho comentou a transferência, desabafando mais ou menos o seguinte: “Se o clube que vendeu o jogador está contente, se o clube que comprou o jogador está contente, se o empresário que fez o negócio está contente, se o jogador está contente, eu também estou contente”. Lapidar!
Luís Figo, no seu habitual tom sereno, comentou mais ou menos o seguinte: “É o mercado a funcionar. Se houve um clube disposto a pagar o que pagou pela compra do jogador e outro a vendê-lo por aquele preço e o jogador concordou com o que recebeu está tudo de acordo com as regras do mercado”. É claro, não é?
Só alguns comentadores de serviço e políticos, a começar por Cavaco Silva, o Presidente da República Portuguesa, fingiram não compreender o que José Mourinho e Luís Figo explicaram com tamanha clarividência.
Cavaco Silva disse que achou a verba muito elevada, que julgava que transferências de jogadores não atingissem valores tão elevados.
Alguns comentadores da “mais cara de sempre transferência de um jogador de futebol” mostraram-se escandalizados por profissionais de outros ofícios – médicos, cientistas, investigadores, … -, não ganharem tanto, sendo as suas artes tão meritórias. Trata-se de chutar ao lado ou passar para fora, com a agravante de o fazerem de propósito.
Porque não fizeram tais comparações com empresários e gestores de sucesso, autores de “best sellers” ou com artistas de outros espectáculos? Sim, porque o futebol profissional hoje é uma grande “indústria”, que usa o espectáculo que é o futebol para promover inúmeros negócios. Veja-se o que acontece com a publicidade, ou com o “merchandising”, só para falar nos mais visíveis…
Mas alguns dos que comentaram a transferência, afirmando a sua surpresa ou indignação com os valores que a mesma envolveu, mostraram acima de tudo o que existe de pior em nós – inveja e cretinice.
Em vez de explicarem que se tratou de um negócio normal numa economia de mercado aberto, que se não envolver dinheiros públicos não justifica qualquer crítica, e que, tratando-se de um português, nos devíamos sentir orgulhosos por ter atingido o topo, foram não só incapazes de o fazer como derramaram cretinice, mostrando surpresa e indignação, e inveja por não serem eles a estar no lugar do Ronaldo.
Dantes, quando os jogadores de futebol tinham baixa escolaridade, como a grande maioria dos portugueses, havia quem dissesse que eles só tinham “inteligência dos joelhos para baixo”, porque não sabiam falar.
Agora, com o nível atingido com os seus comentários, podemos dizer que alguns comentadores e políticos não passam de “artistas falhados”, que não são capazes de gerir as suas frustrações.
No meio de todo este vendaval, o miúdo de origens humildes que saltou da Madeira para a ribalta, graças ao seu gosto pela bola e ao jeito com que a trata, mostra uma maturidade, que mais uma vez as más-línguas agoirentas do costume não de fartam de por em causa.
Fingem que não percebem que um jovem de vinte e poucos anos que, por mais que se dedique à bola, tem outras necessidades com qualquer outro, e, por isso, fingem mostrar-se preocupados com o facto de ele poder deitar tudo a perder por algum devaneio incontrolado, caindo no ridículo de o aconselhar a ter namorada fixa, a casar, a ter filhos… Já agora, e porque não ficar por casa a tratar do jardim?!...
Ele, como não quer a coisa, lá os vai desiludindo com as suas palavras mais sábias do que gostariam que usasse, dizendo que não chegou a este nível por acaso mas com muito trabalho e que vai continuar a trabalhar muito para ser ainda melhor.
Mas não esperem dele que não goze bem o que ganha… E lá ficam alguns mortinhos de inveja. É a vida!
Alvito, 16 de Julho de 2009