Quem não deve não teme
Parece ser claro para toda a gente que o Ministério do Ambiente de José Sócrates teve intenção de deixar o processo do Freeport aprovado antes das eleições de 2005, usando todos os expedientes para o conseguir, obtendo pareceres em prazos nunca vistos.
Nada disso significa, obrigatoriamente, que tenham sido cometidas ilegalidades ou irregularidades insanáveis no processo nem que este tenha andado tão depressa e só tenha sido aprovado porque houve pagamento de luvas.
Mas foram levantadas essas suspeitas, agora intensificadas pelo pedido da Justiça da Grã-Bretanha de consulta às contas bancárias de um grupo de pessoas, incluindo José Sócrates. Importa, por isso, esclarecer até ao fim essas suspeitas, ainda por cima porque elas atingem o bom-nome de um antigo ministro, agora primeiro-ministro, e, por isso, também o bom-nome de Portugal.
Quando seria de esperar que deixasse que a Justiça faça e conclua o seu trabalho, sem interferências, José Sócrates optou por se multiplicar em declarações, mais ou menos, formais, reafirmando a sua inocência e a correcção de todo o processo e atacando uma pretensa campanha negra de difamação contra si orquestrada, visando atingi-lo pessoal e politicamente.
Ou seja, José Sócrates, com as suas declarações tem procurado vitimizar-se, condicionar os processos judiciais em curso e fazer aquilo de que critica outros, lançando suspeitas sem concretizar contra quem.
Em vez deste seu comportamento não seria mais correcto fazer o que disse inicialmente – colocar-se à disposição da Justiça para ajudar a esclarecer a situação –, mostrando que quem não deve não teme, e autorizar o acesso das autoridades judiciais às suas contas bancárias? Melhor ainda seria torná-las públicas uma vez que o processo tem grande impacto mediático.